Resenha: Melhor filme de 2018: Vice

No seu último filme, A Grande Aposta (2015), o diretor Adam McKay foi ousado. Fez um filme lúdico e dinâmico sobre detalhes do mercado financeiro. No topo da montanha do sucesso, McKay se propôs um desafio tão formidável quanto o anterior. Dessa vez iria revelar a vida íntima de um homem cuja a discrição absoluta o manteve no poder, Dick Cheney, o ex-vice-presidente americano. Mas como fazer uma biografia de um homem que esconde tudo o que faz e apaga os rastros de toda informação existente sobre ele próprio?

O diretor teve de inventar uma nova forma de contar estórias. Tudo que se sabe sobre ele foi mostrado como um vilão piscando o olho pra câmera. O espectador que faz o julgamento. Nunca saberemos o que realmente aconteceu naquelas reuniões, mas sabemos com certeza que Dick Cheney era bem mais do que seu cargo, e como o cargo é vice-presidente, ele só podia ser bem mais que o presidente. E na falta de informação sobre o sujeito, em uma das cenas, Dick e sua esposa Lynne (estrelada por Amy Adams) falam como se fossem personagens de Shakespeare, em outra cena aparece falsos créditos do filme do nada, depois o filme volta. Tudo para sutilmente formar uma narrativa opcional para quem assiste.
Alguns críticos acharam confuso a tentativa do diretor, mas isso é por que não entenderam a mensagem. Dick Cheney era confuso, e um homem neste nível de poder, necessariamente parece niilista para o público. Sua moralidade ou é flexível demais para explicar, ou é inexistente ou é complexa demais. Então o que resta é uma aparente ambiguidade confusa, mas uma intuição certeira sobre as raizes do alto-poder. Assim como os documentários de Errol Morris, Vice te leva para dentro da Casa Branca, e te faz enxergar que é muito fácil julgar de fora, quando está entre os mais poderosos do mundo. Mas ‘zona cinza’ é preto e branco demais para ser a palavra certa quando se fala de interesses realmente globais.
O filme vale a pena assistir pela acensão da consciência sobre o verdadeiro poder e só pra ver Christian Bale brilhar. Se consolidando como um dos atores mais versáteis da nossa geração, o melhor dos Batmans, aqui virou um gordo, se equilibrando em próteses. Mantido quase sempre nas sombras, como uma metáfora cinematográfica, Bale incorpora Cheney em sua voz, expressões e maneirismos. Cortar frases no meio, deixar os outros perplexos como um chefe da Mafia, Bale faz a gente lembrar de um José Dirceu mais competente.
Abaixo estão os melhores filmes dos outros anos de acordo comigo. Vice está disponível para ser assistido no YouTube Premium.
2018 – Vice de Adam McKay |
2017 – Call Me by Your Name de Luca Guadagnino |
2016 – Captain Fantastic de Matt Ross |
2015 – The Big Short de Adam McKay |
2014 – The Grand Budapest Hotel de Wes Anderson |
2013 – La grande bellezza de Paolo Sorrentino |
2012 – Cloud Atlas de Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski |
2011 – Limitless de Neil Burger |
2010 – Inception de Christopher Nolan |
2009 – Mr. Nobody de Jaco Van Darmeal |
2008 – The Dark Knight de Christopher Nolan |
2007 – There Will Be Blood de Paul Thomas Anderson |
2006 – The Prestige de Christopher Nolan |
2005 – V for Vendetta de James McTeigue |
2004 – The Notebook de Nick Cassavetes |
2003 – The Lord of the Rings: The Return of the King de Peter Jackson |
2002 – Hero de Yimou Zhang |
2001 – Vanilla Sky de Cameron Crowe |
2000 – Crouching Tiger, Hidden Dragon de Ang Lee |
1999 – American Beauty de Sam Mendes |
1998 – The Truman Show de Peter Weir |
1997 – Good Will Hunting de Gus Van Sant |
1996 – Trainspotting de Danny Boyle |
1995 – Dead Man de Jim Jarmusch |
1994 – Shawshank Redemption de Frank Darabont |
1993 – In the Name of the Father de Jim Sheridan |
1992 – Scent of a Woman de Martin Brest |
1991 – The Quarrel de Eli Cohen |
1990 – Rosencrantz & Gildenstern Are Dead de Tom Stoppard |
1989 – Dead Poets Society de Peter Weir |
1988 – Nuovo Cinema Paradiso de Giuseppe Tornatore |
1987 – Full Metal Jacket de Stanley Kubrick |
1986 – The Name of the Rose de Jean-Jacques Annaud |
1985 – After Hours de Martin Scorcese |
1984 – A Passage to India de David Lean |
1983 – Scarface de Brian De Palma |
1982 – The World According to Garp de George Roy Hill |
1981 – The Chosen de Jeremy Kagan |
1980 – The Shining de Stanley Kubrick |
1979 – Manhattan de Woody Allen |
1978 – The Deer Hunter de Michael Cimino |
1977 – The Duellists de Ridley Scott |
1976 – Network de Sidney Lumet |
1975 – Monty Python & the Holy Grail de Terry Gilliam and Terry Jones |
1974 – The Godfather Part II de Francis Ford Coppola |
1973 – Papillon de Franklin J. Schaffner |
1972 – The Life and Times of Judge Roy Bean de John Huston |
1971 – A Clockwork Orange de Stanley Kubrick |
1970 – Little Big Man de Arthur Penn |
1969 – Easy Rider de Dennis Hopper |
1968 – 2001: A Space Odyssey de Stanley Kubrick |
1967 – Cool Hand Luke de Stuart Rosenberg |
1966 – The Good, The Bad and the Ugly de Sergio Leone |
1965 – The Cincinnati Kid de Norman Jewison |
1964 – My Fair Lady de George Cukor |
1963 – The Great Escape de John Sturges |
1962 – To Kill a Mockingbird de Robert Mulligan |
1961 – The Hustler de Robert Rossen |
1960 – The Fugitive Kind de Sidney Lumet |
1959 – The 400 Blows (Les quatre cents coups) de François Truffaut |
1958 – Cat on a Hot Tin Roof de Richard Brooks |
1957 – Twelve Angry Men de Sidney Lumet |
1956 – Giant de George Stevens |
1955 – Rebel Without a Cause de Nicholas Ray |
1954 – On the Waterfront de Elia Kazan |
1953 – The Wild One de Laslo Benedek |
1952 – Ikiru de Akira Kurosowa |
1951 – A Streetcar Named Desire de Elia Kazan |
1950 – Sunset Blvd. de Billy Wilder |
1949 – The Third Man de Carol Reed |
1948 – Bicycle Thieves (Ladri di biciclette) de Vittorio de Sica |
1947 – Out of the Past de Jacques Tourneur |
1946 – It’s a Wonderful Life de Frank Capra |
1945 – Rome, Open City (Roma, città aperta) de Roberto Rossellini |
1944 – Double Indemnity de Billy Wilder |
1943 – Shadow of a Doubt de Alfred Hitchcock |
1942 – Casablanca de Michael Curtiz |
1941 – Citizen Kane de Orson Welles |
1940 – The Grapes of Wrath de John Ford |